Embora já tenha encontrado um tópico sobre a dúvida que vou expor, ele não me foi convincente. É quanto ao uso da barra (/). Quando a observo em textos técnicos, documentos, artigos, etc., questiono-me como um símbolo como tal transmutou-se em um sinal gráfico, de uso como o da vírgula, do hífen, do ponto – muitas vezes até substituindo-os!
Ex. 1: «O uso de lápis/caneta/borracha é o mais indicado no exame.»
Ex. 2: «Marcos e/ou Joana virão aqui hoje.»
Ex. 3: «Este assunto refere-se a questões sócio/político/histórico/cultural.»
Sem contar com as formas abreviadas: p/ = para; a/c = aos cuidados de; etc.
Sinceramente fico perplexo ao encontrar expressões do tipo..., e a dúvida não sai da minha cabeça, pois não encontro um esclarecimento. Por que alguns sinais são substituídos pela barra? Onde está registrada a legalização de seu emprego gramatical? Como seu uso é visto no campo da língua padrão?
Ficarei agradecido se alguém me der uma resposta mais aprofundada a respeito.
Etimologicamente, a única informação que consigo dar-lhe é que o termo deriva do latim: `barra´ travessa, tranca.
Começo por precisar que o que vou dizer se refere à barra com inclinação para a direita: /, simplesmente barra, e não à barra com inclinação para a esquerda: , designada no ing. por “backslash” e por mim barra esquerda.
Tradicionalmente, a barra tem sido utilizada para substituir o sinal horizontal nos números fraccionários (barra de fracção, ex.: ½), ou para abreviaturas (barra de abreviatura, ex.: a/c [aos cuidados de], s/ [sem], etc.)
Além disso, a barra passou também a ser usada com função disjuntiva (ou). Exemplo no Prontuário da Texto Editora: «no/a terraço/sala (dois locais) → o banquete far-se-á no terraço ou na sala».
É uma utilização diferente da do hífen, que tem função aditiva. Exemplo no mesmo trabalho: «na sala-auditório (um só local) → uma sala que também é auditório».
Assim, no seu ponto 1, uma grafia do tipo «O uso de lápis/caneta/borracha» poderia significar que se poderia usar lápis ou caneta ou borracha. Claro que esta associação parece ter falta de coerência na estrutura profunda. Seria preferível o conjunto: `lápis/borracha´/caneta. Reparar que lápis/borracha é diferente de lápis-borracha.
Quanto ao ponto 3, não está formalmente errada uma grafia do tipo «sócio-político-histórico-cultural» , se houver uma aderência de sentidos nos quatro elementos da palavra composta. Estilisticamente, porém, eu preferiria `sócio-político e histórico-cultural´, com substituição do segundo hífen pela conjunção (também aditiva) e.
No que se refere ao ponto 2, a grafia: «Marcos e/ou Joana virão hoje», o encontro vocálico com barra e/ou considera três hipóteses: virão o Marcos e a Joana, virá só Marcos ou virá só a Joana.
Resumindo, esta `variação´ lúdica sobre a possível utilização da barra não é mais do que outro exemplo das subtilezas que a nossa impressionante `comum língua´ nos oferece, irmão brasileiro.
NOTA: Como muito bem me observou o nosso competente revisor, a palavra sócio-político [que eu considero formalmente correcta segundo Rebelo Gonçalves] já aparece dicionarizada com fusão dos dois constituintes: sociopolítico, logo, neste caso, sem acento.
Ao seu dispor,